sexta-feira, 12 de maio de 2017

Quando existiam dois e mais Papas em simultâneo

Houve um momento em que existiram dois Papas, dois chefes da igreja católica, reconhecidos como tal por vários reinos. Chamou-se a esse período da história medieval: “O Grande Cisma”. Poderíamos pensar que eram eventuais questões religiosas e espirituais que estavam em causa e levaram a essa separação, mas não foi bem assim. O facto de terem existido duas cortes pontífices, uma em Avinhão e outra em Roma, cada uma com o seu respetivo Papa, acontecia, principalmente, por questões políticas e administrativas.

Papa Inocêncio X - original de Velasquez (Sec XVII) e estudo de Francis Bacon (Sec. XX)
Fonte de imagem: http://de.phaidon.com/agenda/art/articles/2013/february/08/the-truth-behind-francis-bacons-screaming-popes/

O seculo XIII foi politicamente atribulado, com inúmeras guerras, locais entre senhores feudais e das restantes de maior escala entre reinos. O papado estaria envolvido direta e indiretamente em algumas delas. De notar que a própria igreja era uma poderosa organização que se constituía senhorios territoriais e administrativos. Existiam os “Estados Pontifícios” em Itália, em que o Papa era seu senhor ou príncipe, inserido no complexo sistema feudal medieval.

Voltando ao século XIII, a situação política na península italiana foi particularmente caótica. Os conflitos entre o poder papal e alguns dos reinos mais poderosos europeus eram uma realidade, especialmente por questões de propriedades fundiárias, de administração e tributação. De notar que a Igreja detinha propriedades muito consideráveis que administrava diretamente e indiretamente, que estavam isentas de impostos e dos contributos que o sistema feudal exigia por toda a europa, o que obviamente desagradava aos governantes, especialmente quando precisavam de mobilizar estes recursos para as suas campanhas militares.

Em 1309 o papado comprou a localidade de Avinhão à rainha Joana de Nápoles. Nessa cidade seria instalada a nova residência oficial, abandonando a histórica cidade eterna. Os papas deixaram Roma. A partir daí a composição do colégio dos cardeais seria maioritariamente francesa, resultando na eleição maioritária de papas franceses, de tal modo que o papado parecia ser um instrumento da coroa francesa.

Em 1377 o papa Gregório XI sentiu que Roma era de novo segura e voltou à cidade. Depois da sua morte uma multidão aprisionou os cardeais que, sob ameaça de mutilação por parte da população, escolheram um papa romano. O novo Papa, Urbano VI, forçou os cardeais a abandonar o seu estilo de via faustoso. Mas sabendo disto o rei Carlos V de França impeliu os cardeais franceses a abandonarem Roma. Posteriormente elegeram o primo do rei Carlos V, o cardeal Roberto de Geneva como novo Papa Clemente VII. A sua corte papal instalou-se de novo em Avinhão.

A europa dividiu-se politicamente, e supostamente religiosamente. Ingraterra, parte da Alemanha e da Itália apoiavam Urbano, embora com oposição em Milão e Nápoles. França e os seus aliados, incluindo a Escócia, apoiavam Clemente. A cristandade teria dois Papas.

Em 1409 reuniu-se um concilio na cidade italiana de Pisa em que se escolheu um novo Papa sem que se garantisse que o Papa de Roma e o de Avinhão Abdicassem. Por isso, nessa altura existiam formalmente três Papas em simultâneo.

Em 1414 reuniu-se um novo concílio em Constância. O Papa Romano abdicou enquanto o de Avinhão e o de Pisa foram depostos pelo concílio, embora continuassem a defender a sua legitimidade.

Seguiram-se vários outros concílios onde se tentaram eleger novos Papas, alguns em simultâneo, quase sempre motivados por disputas entre os vários reinos, por questões fiscais, mas também por uma crescente necessidade de reformar a igreja que se tinha secularizado e fortemente envolvido nas questões políticas e militares da época. Seria o prenuncio das futuras e definitivas separações cristãs que resultaram dos movimentos reformistas e protestantes no século XV em diante.

Referências Bibliográficas:
  • CUNHA, Mafalda Ferin. O que Foi: Reforma e Contra-Reforma. Lisboa: Quimera: 2002.
  • NICHOLAS, David. A Evolução do Mundo Medieval: Sociedade, Governo e Pensamento na Europa: 312-1500. Lisboa: Públicações Europa-América, 1999.
  • SOLAR, David; VILLALBA, Javier (Dir.). História da Humanidade: Idade Média. Barcelona: Circulo de Leitores: 2007.

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