segunda-feira, 4 de maio de 2015

Capitão Falcão - O filme fascista defensor da liberdade e democracia

O primeiro super-herói português é um fascista que idolatra Salazar e o Estado Novo.  Aqui está o mote para o filme “Capitão Falcão” de João Leitão. Obviamente que se trata de uma paródia, mas mesmo assim ainda terá sido um risco considerável avançar com este tipo de produção. Um risco ganho e que reforça o próprio espírito democrático. Criar um filme em torno de um super-herói cuja principal tarefa é derrotar feministas, livres pensadores, artistas, comunistas, democratas, intelectuais, ateus, homossexuais, transformistas e todos aqueles que podem atentar contra o fascismo conservador e hipócrita do Estado Novo é prova de maturidade democrática. Finalmente podemos ser livres e gozar connosco mesmos e com um período negro da nossa história, pois este herói ridiculariza-se a ele próprio e aos valores que defende, sendo a apologia perfeita de tudo aquilo que o antagoniza.
Assim, Capitão falcão é um hino dissimulado à democracia e liberdade. O enredo e os conteúdos do filme sobrepõem-se em camadas que se aprofundam na medida em que se analisam o ridículo de alguns discursos e cenas. Na primeira camada estão os combates, as artes marciais e o cómico básico de sátira aos filmes de super-heróis de Banda Desenhada. Nas restantes camadas critica-se o obscurantismo do salazarismo e mais a fundo a própria sociedade portuguesa, com inúmeras referências à época contemporânea. O manancial de piadas e trocadilhos revelam um trabalho de originalidade na escrita que dão substrato ao filme.
Em tudo se notam as limitações orçamentais, mas tudo acaba por funcionar bem. Os atores são bastante bons, especialmente Gonçalo Waddington que tem algumas performances brilhantes, alternado entre a parvoíce calma e o desvario. Os restantes atores adequam-se, tirando um ou outro papel secundário menos conseguido. A fotografia está igualmente bastante aceitável, embora os cenários e ambientes não sejam muito ricos.
Um aspeto que acaba por prejudicar o filme é a sua duração. Se fosse condensado em menos meia hora provavelmente ficaria no ponto, com a dinâmica de ação mais fluida e sem pausas para o espetador recuperar do rol de (boas) parvoíces contidas na história.
Pela novidade que representa, pelo espírito empreendedor dos criadores, pela originalidade da ideia em si, e como ela surge numa altura em que se coloca em causa a democracia, faz todo o sentido ir ao cinema ver o Capitão Falcão.

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