terça-feira, 18 de novembro de 2014

Havia igualdade de género no antigo Egipto?

As fontes não são conclusivas, mas existem algumas evidências que conseguem sustentar uma quase igualdade de género no antigo Egipto. Pelo menos, comparativamente a outras culturas e civilizações da época, a do antigo Egipto terá garantido uma relativa igualdade de género entre homens e mulheres. No entanto, parece que o domínio terá sido sempre masculino.
Vejamos então alguns dados. Começamos pela mitologia. No antigo mito de Osíris e Iris, é Isis que, recorrendo à sua determinação e magia, faz ressuscitar Osíris (seu irmão e marido) assassinado por Seth. Depois é o filho de ambos, Hórus, que passa a governar o Egipto, enquanto Osíris se torna o governante do reino dos mortos. A importância de Isis, do seu papel de mãe e mulher, é essencial neste mito egípcio. Este era um verdadeiro mito da criação da sociedade egípcia e da sua crença na vida após a morte, tão importante para aquela civilização.

Homem e mulher egípcios - XXIV a.c.

A egiptóloga Barbara Lesko defende que existia igualdade jurídica ente homem e mulheres no antigo Egipto, pois a ambos era permitida a posse e uso-e-fruto dos bens, tal como venda e passar em testamento. No entanto Gay Robbins, igualmente egiptóloga, refere que mesmo havendo esse estatuto, na prática tal direito seria destinado ao papel assumido como mãe, tal como o de Isis no mito. Assim, na prática, sem a proteção masculina essa igualdade poderia ser difícil de existir de facto.
Não existem certezas absolutas, até porque a história da vida comum não era o principal foco dos registos antigos (sempre interessados em grandes conquistas, reinados e celebrações religiosas). Há que lembrar que as correntes historiográficas que focaram a importância desse tipo conhecimento histórico só se desenvolveram na primeira metade do século XX, pelos historiadores da famosa escola e corrente dos Annales.
Analisando o modo como como os antigos egípcios representavam os dois géneros também pode levar a resultados inconclusivos. Se existem representações em que o homem parece dominar a mulher, também existem outras em que ambos se representam nivelados em igualdade estrita.
No que toca à monarquia egípcia existem provas do governo de mulheres. Por exemplo, Hatchepsut, governou em nome próprio como faraó no XV a.c.. Muito conhecido é também o governo de Cleópatra, ainda que num período posterior completamente diferente, e sob influência de culturas externas. Pode muito bem ter havido uma progressiva tendência para a igualdade, mas por enquanto não há certezas.
Estátua de uma homem, mulher e criança - XIV a.c.
Tendo havido ou não verdadeira igualdade de género no antigo Egipto, é seguro que a mulher assumia um papel de maior liberdade e igualdade em relação às sociedades contemporâneas de então. Isto talvez se explique pela própria natureza da sociedade egípcia, mais estável, menos violenta e tumultuosa que outras grandes civilizações da época.
 
Referências bibliográficas:
  • ARAÚJO, Luís Manuel de. Mitos e Lendas – Antigo Egipto. Livros e Livros, 2008.
  • BALTHAZAR, Gregory da Silva. “Feminismo e a Igualdade de Gênero no Antigo Egito:
  • Uma Utopia da Emancipação Feminina”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho 2011
  • LESKO, Barbara. The Remarkable Women of Ancient Egypt. Providence: Scribe, 1996.
  • ROBINS, Gay. Women in Ancient Egypt. Cambridge: Harvard University Press, 1996.

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