quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mediterrânico – A estranheza de um clima pouco apto para a Agricultura


Em Portugal, como em qualquer outro país de clima predominantemente mediterrâneo, os Invernos são as estações mais húmidas e frias (ainda que desordenadamente) e os Verões secos e quentes. Por cá [Portugal] podemos pensar que pelo resto do globo os Invernos e Verões, a nível climático, se estruturam de modo semelhante aos nossos, apenas com variações nas quantidades de precipitação e temperatura. No entanto, o clima mediterrâneo é tudo menos comum na terra: apenas 3% do globo apresenta um clima do tipo mediterrânico (Bacia Mediterrânica; Costa da Califórnia; Costa central do Chile; Sudoeste da África do Sul; Costa Sul e Sudoeste da Austrália).
Montanhas na Provença - Cezanne
No clima mediterrânico, por mais normal que nos possa parecer – como habitantes de um país marcado por esse tipo de clima -, os Verões são muito singulares, pois é, simultaneamente, a época mais seca do ano. Curiosamente – provavelmente só para nós -, nas restantes regiões subtropicais temperadas, por exemplo, em Washington, que fica à mais ou menos à mesma latitude que Braga, os meses de Verão são os de maior precipitação! Aí, o calor significa mais humidade, e não secura como por cá [Portugal].
Apesar do clima mediterrânico ter muitas vantagens turísticas, pois o calor e a quase ausência de chuva nos Verões são ideais para atividades exteriores, na agricultura a mesma combinação é uma desvantagem, pois a vida vegetal desenvolve-se preferencialmente com humidade e calor em simultâneo – basta lembrar o caso da exuberância das selvas tropicais. Ou seja, no clima mediterrânico, à medida que os meses avançam e da primavera se passa para o verão, as chuvas começam a diminuir. Faltando a humidade e calor em simultâneo, a vegetação e a agricultura, por consequência, tenderá a ser menos favorecida nos países mediterrânicos. Mesmo assim, algumas espécies, tal como as oliveiras e as videiras adaptam-se bem a este clima, tal como todo o tipo de culturas de regadio, garantindo a mão humana aquilo que a natureza não provém.
Poderíamos então dizer que a irrigação resolveria os problemas e obstáculos à agricultura nos climas secos, tal como é o clima mediterrânico no verão. Mas podemos muito bem estar enganados, pois o excesso de irrigação leva à salinização dos solos e à sua consequente infertilidade. Esse fenómeno explica-se pela presença de sais, ainda que em pequenas quantidades, na água doce e que acabam por precipitar e se depositar nos solos, uma vez que o calor faz evaporar apenas a água (alusão direta às salinas). Apesar de ser um processo lento, a salinização dos solos acaba por ser inevitável. Hoje, na Mesopotâmia  muitos dos solos que foram irrigados e férteis durante séculos são agora estéreis. O mesmo parece estar a acontecer em Israel.
Esperemos então que as zonas mediterrânicas não atinjam o mesmo nível de saturação e salinização dos solos existentes já noutras regiões - onde se inclui obviamente Portugal, e mais particularmente o Alentejo. Esperemos que saibamos perceber as nossas limitações e o modo de as ultrapassar, sem soluções que agravem ainda mais as condicionantes naturais. Nem sempre forçar a natureza a uma coisa não natural tem bons resultados – redundâncias e trivialidades à parte. Por vezes a "fatura" vem anos, séculos ou milénios depois...
Nota: Usar o termos Mediterrânico ou Mediterrâneo é indiferente, segundo o sítio da Internet "Cinerdúvidas". Ver mais em: http://www.ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=15372

Referências Bibliográficas:
  • Daveau, Suzanne. 1998. “Portugal Geográfico”. Edições João Sá da Costa.
  • Pereira, Ana Ramos. 2002. “Geografia Física e Ambiente”. Universidade Aberta
  • Ribeiro, Orlando. 2011. “Portugal o Mediterrrâneo e o Atlântico”. Letra livre.
  • Wikipédia. "Mediterranean climate". Consultado em 18 de Dezembro de 2012, disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Mediterranean_climate

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