segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Quando Surgiram as primeiras questões sobre a necessidade de acção social actuais?

Hanibal e seus homens atravessando os Alpes - William Turner
Depois de várias leituras e investigações ocasionais que fui fazendo, responderia a esta questão - a do título deste texto - do seguinte modo: muito provavelmente durante os finais do séc. XVIII e por ai em diante, conhecidos que são os vários pensadores, ideologias e revoluções que surgiram e ocorreram a partir de então. Tudo isso despontado por um capitalismo selvagem que, inicialmente, com promessas de auto-regulação e criação de riqueza para todos, muito contribuiu para que no séc. XIX as sociedades ocidentais, nomeadamente as classes mais baixas, tenham atingido um estado de vivência quase sub-humano. Todos nós recordados, mesmo os que apenas estudaram História até ao 9º de escolaridade - como eu -, as condições de trabalho dos primeiros trabalhadores industriais e as de todas as restantes profissões ligadas às primeiras industrias. Há que recordar as 16 horas de trabalho diárias, os salários miseráveis que obrigavam pais a abandonar filhos em orfanatos, as fábricas repletas de crianças que executavam as trabalhos mais perigosos (por exemplo nas minas), os bairros de lata onde viviam pessoas amontoadas sem o mínimo de condições de saúde e higiene, e a ausência de assistência médica generalizada. Apesar de hoje, infelizmente, casos destes ainda ocorrerem, já não é a norma como foi no passado - mesmo que alguns tentem diminuir a importância do Estado Social. São desta altura as grandes epidemias associadas às péssimas condições sanitárias e de higiene, tais como a cólera e a tuberculose, entre outras.
De tudo isto resultaram reacções, muitas delas violentas (que aqui não abordarei) como seria de esperar. Vários pensadores de então analisaram os flagelos da sua época e criaram novas teorias para explicar o que se passava na sua sociedade. Alguns deles tentaram também  encontrar soluções para o presente e o futuro - o nascimento das utopias sociais (anarquismo, comunismo, etc.). Mas as primeiras destas ditas teorias e utopias sociais não eram somente políticas, apesar de a política ter andado sempre intrinsecamente ligada a elas, ou sendo delas um subproduto. Através da leitura da obra «A grande história da cidade», do urbanista francês Charles Delfante, na secção dedicada ao urbanismo do séc. XIX, fica evidente o papel dos primeiros urbanistas ou industriais com consciência social na execução das novas teorias sociais. Numa época em que a desregulamentação imperava, em que o Estado, regra geral, não intervinha, nem existia o conceito generalizado de "preocupações sociais", apesar da disseminação da miséria, da ignorância e da doença entre as classes mais baixas da sociedade, foram alguns Homens mais esclarecidos - alguns filantropos - que tentaram construir e disseminar a ideia da necessidade de criar novos espaços urbanos para os trabalhadores. De lhes proporcionar condições básicas de vida, de terem habitações condignas, de terem condições sanitárias e de higiene, de terem acesso a cuidados médicos e educação e até mesmo de lazer. Alguns desses esclarecidos pensadores, que eram também pessoas com capital, elaboraram os primeiros planos e disseminaram essas primeiras ideias (muitos deles ficaram arruinados com a aplicação destes primeiros planos, um deles foi Robert Owen), que mais tarde seriam algumas das bandeiras da "acção social". Alguns destes planos eram pura utopia, pois partiam do princípio que se poderia mudar, através do urbanismo, repentinamente toda uma sociedade segundo os ideais da partilha, do colectivismo e da fraternidade. A sociedade e o Estado teriam de evoluir para que as realizações palpáveis resultantes dessas primeiras preocupações sociais se pudessem implantar, o que foi acontecendo gradualmente ao longo dos anos, das lutas, das revoluções e à custa de cada conquista social que se ia acumulando.
Estes filantropos do séc. XIX, através da defesa dos seus modelos sociais e urbanos, contribuíram para a génese de algumas das bases ideológicas das políticas de esquerda (Comunismo, Socialismo, Social-Democracia, etc.).

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