segunda-feira, 21 de março de 2016

Hannah Arendt - um filme para filosofar e conhecer uma época

Ver um filme para tentar aprender algo sobre filosofia costuma não dar em grande coisa. Há poucos filmes sobre filósofos e os poucos que se fazem nem sempre chegam aos espectadores. Mas há sempre canais que conseguem romper com essas tendências gerais. A RTP2 é um desses casos. Recentemente exibiram o filme “Hannah Arendt “, de Margarethe Von Trotta.


Trata-se de um filme que retrata partes da vida da famosa filósofa. Explora a personalidade dessa mulher, considerada por muitos uma das principais e mais influentes filósofas do século XX, ainda que a própria nunca se tenha verdadeiramente assumido como tal. O enredo incide sobre o período em que Arendt acompanhou o julgamento de Eichmann pelo recém-formado Estado de Israel. Seria suposto fazer apenas um artigo para a revista New Yorker, de estilo jornalístico, mas Arendt foi muito mais fundo que isso, filosofando sobre a “Banalidade do Mal”. Esse artigo, que mais tarde daria origem a uma das suas mais famosas obras, constata que a desumanização do ser humano, quando privado de pensamento crítico próprio, pode levar a que uma pessoa comum cometa os atos mais horríveis como sendo algo banal, sem que a isso esse sujeito seja de facto um ser especialmente diabólico. Esta conclusão surge na sequência de estudos anteriores de Arendt, sobre "As Origens do Totalitalismo”, mas ganha corpo depois de analisar “A Banalidade do Mal” de Eichamann, um burocrata que cometeu crimes contra a humanidade sem remorsos, por simplesmente achar que estava a fazer o seu papel, a cumprir o seu dever perante o Reich.

Hanna Arendt tinha origem alemã e judia. Tinha sido presa e por pouco não foi também ela deportada para os campos de concentração e para a morte. Consta que terá sido o seu amante de juventude, o filosofo Heidegger que a terá salvo, ele que era um simpatizante nazi. Terá sido depois da guerra Arendt a ajudar a sanear o antigo amante e mestre, evitando os processo que aconteceram a outros nazis.

 Há que lembrar que Eichmann foi um dos responsáveis do sistema de extermínio em massa do povo judeu. A capacidade de uso da razão que Arendt terá tido perante aquela confrontação com Eichmann, é notável. Ainda hoje os judeus desconsideram Arendt por ter criticado nos seus escritos as lideranças dos judeus no tempo do holocausto e de ter racionalizado o ódio que todos queria manifestar e corporizar contra a figura de Eichmann. Acusaram-na de ser friamente racional.

Hannah Arendt é um daqueles filmes para quem quer conhecer uma época e uma personalidade importantíssima do pensamento do século XX. O desempenho dos atores é irrepreensível, especialmente de Barbara Sukowa, no papel de Hannah Arendt. Boa fotografia e ambientes credíveis, com uma acção a ritmo próprio para pensar. De notar o recurso  a excertos do próprio julgamento de Eichmann, dando quase uma dimensão documental ao filme.

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