segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Pirâmides pelo Mundo – Uma Razão Técnica


Muito se tem especulado sobre a razão (ou razões) pela qual as culturas antigas construíram pirâmides. Numa análise global pela história da arquitetura monumental da humanidade, comprova-se que várias civilizações e culturas, em épocas históricas e em geografias diferentes, por vezes em qualquer relação entre si, construíram pirâmides monumentais. 
A Pirâmide de Caio Céstio em Roma - Jean-Baptiste Lallemand
Independentemente das funções e significados políticos, sociais e religiosos, tendo em conta a tecnologia que essas sociedades detinham, dificilmente poderiam ter feito outro tipo de construções. A construção de grandes estruturas estava limitada à tecnologia e materiais existentes. Em pedra, dificilmente se poderia construir algo monumental e de altura considerável que não fossem pirâmides ou formas piramidais. Pois, como se sabe, por mais resistente que seja um tipo de pedra, apesar da boa resistência à compressão, dificilmente aguenta grandes esforços de tração e flexão. Logo, dificilmente se conseguiria fazer algo de imponente em altura que não fosse respeitando as propriedades naturais das pedras - enquanto elementos singulares que são empilhados e ligados para gerar um todo sólido, de base mais larga que o topo
Do ponto de vista da mecânica de solos o fenómeno físico que demonstra o porquê das formas das pirâmides é bem conhecido: depende e relaciona-se com a propriedade ou parâmetro de “ângulo de atrito interno”. Esse tal ângulo é aquilo que define a inclinação que se forma quando se despeja areia num monte, as inclinações dos planos imaginários tangentes às superfícies. Dependendo do tipo de areia ou solo (e extrapolando para a pedra), o monte que se forma, com um hipotético despejo, apresenta um determinado ângulo, definido entre as superfícies tangenciais do próprio monte. De um modo simplista, representa o ângulo que garante a estabilidade estabilidade que um monte de uma determinada areia (solo ou inerte), ou seja, pode-se considerar como o valor quantificável da quantidade de atrito entre as partículas que impede que o hipotético monte se desmorone por ação da gravidade
Assim, mesmo que os antigos construtores das antigas pirâmides, um pouco por todo o mundo, não compreendessem a característica do ângulo de atrito interno, percebiam perfeitamente qual o ângulo que garantiria estabilidade a uma determinada pirâmide, muito provavelmente em relação aos montes que se poderiam construir, em estabilidade, de um determinado tipo de pedras.
No antigo Egipto há provas destes testes falhados e de sucesso de protopirâmides. Algumas ruíram, noutras o design foi sendo aperfeiçoando até se chegar àquilo que conhecemos como as pirâmides clássicas, e que se correlacionam com a teoria de solos do ângulo de atrito interno.
Na antiguidade tentou-se construir muitos outros tipos de estruturas (de relembrar que entre os primeiros monumentos estão os montes de terra e pedras - as mamoas ou tumuli), mas aos nossos dias chegaram apenas as mais sólidas, e essas são, sem dúvida, as pirâmides. Por isso, do ponto de vista estrutural e construtivo, a opção da monumentalidade estava muito condicionada, daí certas formas serem incontornáveis, tal como as leis da física o ditam. Se assim não fosse, os elementos mais altos do mundo não teriam a forma que têm: as montanhas seriam mais parecidas com torres do que com pirâmides.

Referências de documentários:
  • Out of Egipt - http://dsc.discovery.com/tv/out-of-egypt/

Bibliografia:
  • Cardoso, J. L. “Pré-História de Portugal”. Verbo, 2002.
  • Fernandes, M. M. “Mecânica dos Solos – Conceitos e Princípios Fundamentais”. FEUP Edições, 2011.
  •  Llera, R. R. “Breve História da Arquitectura”. Editorial Estampa, 2006.


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