sexta-feira, 8 de abril de 2011

Maquiavel – o irónico e sarcástico?

Volto o referir aqui, mais uma vez, a obra “Platão e um Ornitorrinco entram num bar”, mas desta vez a referência a esse peculiar livro não serve para apresentar anedotas, chalaças, ou histórias engraçadas, serve para introduzir uma teoria alternativa sobre um autor histórico da ciência política e a sua obra mais conhecida. Falo de Maquiavel [1] e do seu conhecidíssimo manual de governação “O Príncipe”.
Nicolau Maquiavel - Santi-di-Tito
A páginas tantas do livro “Paltão e um ornitorrinco…” , na parte de filosofia política, surge um pequeno texto com letras a vermelho que diz mais ou menos isto:Alguns historiadores acreditam agora que Maquiavel estava a gozar connosco com uma espécie de maquiavelismo invertido – parecendo mau quando, estaria a satirizar o despotismo? No seu ensaio “the prince: political science os satire?”[2] o historiador Garrett Mattingly, vencedor do prémio Pulitzer, afirma que Maquiavel foi interpretado de uma forma errónea: “a noção de que este pequeno livro pretendia ser um tratado serio e cientifico sobre governo contradiz tudo o que conhecemos acerca da vida de Maquiavel, acerca dos seus escritos e acerca da história do seu tempo.
Será que Maquivel estava na sua suposta obra sobre governação política - “O Príncipe” - a ser irónico ou sarcástico? Terão os governantes e políticos do Ocidente andado enganados estes séculos todos? Será o próprio adjectivo de “maquiavélico” - que em sentido figurado significa astuto, manhoso, irónico, imoral [3] – despropositado e desadequado da figura histórica que lhe deu origem?

Mattingly [2] afirma que, estudando as muitas outras obras escritas pelo florentino, se denota que Maquiavel considerava as repúblicas e o governo pelo povo o melhor sistema politico-governativo – uma clara oposição à defesa de um governo por um príncipe despótico (ainda que o termo “príncipe” possa simbolizar apenas “governante”, sem que nada tenha que ver com sistemas hereditários monárquicos). Nas várias peças de teatro, poemas e outras obras literárias de maior sensibilidade escritas por Maquiavel, Mattingly[2]  considera  transparecer o superior desenvolvimento moral e ético do autor - valores antagónicos à valta de escrúpulos com vemos hoje é traçada a personalidade de Maquiavel.

Mas ainda hoje, a grande maioria, considera “O Principe” de Maquiavel como um dos cânones da arte governativa (onde se defende a máxima, de um modo simplista, de que: "os fins justificam os meios" [4]) e que foi escrito como tributo a César Bórgia [5] – um dos principais príncipes do renascimento Italiano, conhecido pela sua crueldade, calculismo e despotismo.

Podemos só concluir que fica a dúvida, que não podemos se calhar jamais concluir quais os verdadeiros intentos de Maquiavel. Não saberemos se a história lhe fez justiça. Independentemente disso, ler “O Príncipe” é algo que recomendo a todos. A consequente interpretação  fica depois ao critério de cada um.
Fontes:

2 comentários:

  1. Maquiavel é um homem actual, pois no mundo em que vivemos infelizmente "os fins justificam os meios".

    Fala-se muito em ética e em moral, mas poucos sabem discernir entre uma e outra. Felizmente este blog tem feito alguma luz sobre o assunto.

    Grande Abraço!

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  2. Recomendámos este interessante post na nossa publicação do último aniversário de Maquiavel.
    Um Abraço

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