quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O que significa(va) ser candidato?

A partir de meados de 2009 todos nós fomos participámos, mais ou menos, nas várias campanhas eleitorais, nem que fosse enquanto eleitores e alvos do marketing eleitoral dessas mesmas campanhas. Muitos foram os candidatos; houve de tudo, para todos os gostos e feitios, de todas as ideologias, partidos e movimentos possíveis, até mesmo um grande número de independentes. Havia altos e baixos, feios e bonitos, bons e maus - tudo isso muito subjectivamente, é claro. Muitas possibilidades de escolha tivemos, muitas comparações e decisões a tomar, qual mercado, onde cada um tentava “vender” os seus pontos fortes e ocultar os fracos na ânsia de captar votos. Foi assim em 2009 e continuará a ser assim no futuro, pelo menos enquanto persistir o modelo político vigente.
Cícero acusando Catilina no senado - Cesare Maccari
O anterior parágrafo - desculpem-me o alongamento - serve para introduzir a análise de mais um conceito, no caso, uma palavra muito utilizada em qualquer período e eleitoral. Falo do termo Candidato, que deriva do latim,  mais concretamente do termo candidatum, que por sua vez deriva de candidus. Esse conceito proveniente do latim, tal como o nosso cândido (sendo o relacionamento evidente com candidus),  era sinónimo de pureza, honestidade e integridade. Na antiga Roma, sempre que alguém se assumia como candidato a um cargo público passava a desfilar pela cidade usando uma toga branca, o mais imaculada e limpa possível. Essa distinta peça de vestuário, pois na altura era difícil manter algo branco por muito tempo, pretendia fazer jus ao nome pelo qual passaria a ser designado o cidadão: o «candidus», ou seja, o cândido, aquele que anda de branco e deverá ser imaculado tal como a veste que enverga. Esta associação mais tarde estaria na origem da palavra canditaum (candidato).
Antigamente, apesar da sociedade romana ser conhecida por um grande clientelismo e corrupção em determinados momentos da sua história, era dado um simbolismo quase sagrado ao papel que deveriam ter os candidatos, reforçando-se, de vários modos - sendo um deles o vestuário -, as almejadas características de integridade e honradez.
Hoje em dia, apesar da toga ser uma peça de vestuário mais que ultrapassada, os candidatos a cargos públicos continuam a querer vestir o melhor possível, mas apesar dos fatos e gravata simbolizarem estatuto e importância social, estão longe de simbolizar, infelizmente, honradez e incorruptibilidade. Mesmo na antiga Roma, vestir bem nunca foi garantia de nada.

4 comentários:

  1. Concordo com o teu fecho conclusivo, embora discorde da dos argumentos etimológicos citados. Qualquer linguísta argumentará que as palavras se complexificam, e não simplificam, quando derivam. Daí que seja natural que candidato provenha de candido e não o oposto. Todavia gostaria de tocar num assunto mais interessante que é a definição desta palavras na nossa língua, o português, não de Camões, mas o de Pessoa:
    Candidato, aparece como "aquele que se opõem aos outros para um cargo público ou de honraria"; Candido hoje ganha novas conotações, como a de "ridiculamente ingénuo, etc."....
    Curioso como hoje mais do que nunca as palavras se ajustam à realidade... e não será tanto mais ingénuo aquele que se opondo procura um prestígio de pureza em nome da cidadania, e o que dizer daqueles romanos que através das vestes brancas procuravam limpar as mãos de uma vida de esclavagismo, genocídos e opressão!?

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  2. Percebo o que queres dizer, efectivamente era isso que queria dizer, provavelmente expressei-me mal no primeiro texto. Tratei de reformular o conteúdo de modo a ser mais claro, pois o que pretendia era evidenciar a relação entre candidato e cândido, tendo o primeiro derivado do segundo.

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  3. Eu diria que estas duas situações distintas só podem ser paradoxais se lhes retirarmos as especificidades e contextos Históricos associados. Pois nem sempre a democracia, os direitos sociais e individuais foram o que hoje são, e com certeza no futura também se transformarão. E como optimista que sou, fico esperançado que para melhor.

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  4. Interessante é, de facto, a aproximação etimológica ao termos latino "candidus" que, qualquer que seja a temporalidade de carga significante que lhe confiramos, reflecte sempre a auto-convicção da competência e/ou da capacidade para fazer o que se auto-avalia como "melhor"... independentemente do realismo e da justeza das auto-representações que sustentam as convicções em que assentem esses pressupostos... :))

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